O 1º Seminário do Mercado de vinho, realizado esse mês pela Ideal Consulting em parceria com a Revista Adega, procurou traçar um panorama do que foi o atípico ano de 2020 no nosso mercado, como forma de ajudar o setor a se planejar para 2021.
Com esse objetivo, o seminário contou com a participação de Adilson Carvalhal Júnior, presidente da ABBA, associação que representa os importadores, e da Casa Flora, e de Deunir Argenta, presidente da Uvibra, a União Brasileira de Viticultura, também à frente da vinícola Luiz Argenta. “As importadoras estão estocadas, por problemas de logística do final do ano passado. Mas acreditamos em um crescimento consistente”, afirma Júnior. E acrescenta: “A trajetória de crescimento desse mercado, que seja por 10, 20 ou 30 anos, vai acontecer, mesmo que tenha uma retração neste ano.”
Por sua vez, Deunir disse acreditar que as vinícolas brasileiras devem crescer em vendas esse ano. “Com a pandemia saindo, vamos abrir mais portas para o vinho nacional. Acreditamos que teremos uma safra recorde e vamos colocar os nossos estoques em dia. Nossa limitação é a falta de garrafas”, afirma o empresário. Os produtores brasileiros também foram representados por Hermínio Ficagna, da Vinícola Aurora, que falou sobre o crescimento da indústria nacional, e da necessidade de difundir a cultura do vinho. Jones Valduga, por sua vez, falou sobre o papel dos espumantes brasileiros de qualidade no crescimento do mercado.
O seminário premiou as empresas que mais se destacaram no ano que passou. A VCT Brasil, filial da Viña Concha y Toro no Brasil, foi a maior importadora no ano passado. A Cantu, que partiu da cidade de Pato Branco, no Paraná, e hoje é presente em todo o Brasil, foi a importadora com maior crescimento percentual no ano passado. Focada no B2B, a Cantu soube fazer os seus vinhos chegarem aos parceiros e, consequentemente, ao consumidor.
O Pão de Açúcar, representado por Carlos Cabral, contou porque essa rede foi o maior importador entre os supermercados brasileiros. Em suas lojas, o volume de vendas de vinho teve uma alta de 35% em 2020. Para esse ano, a previsão de crescimento continua e deve chegar aos 17%.
A Wine.com foi premiada como o maior e-commerce de vinhos no Brasil. E o grupo La Pastina / World Wine, agora liderado por Juliana La Pastina, foi o destaque no multicanal, pelas ações tanto com a World Wine como com a La Pastina.
Também foram apresentados dois cases de sucesso no ano passado. O primeiro foi o da Henkell Freixenet, líder em espumantes importados, e que conseguiu crescer em vendas no ano passado, focando, principalmente, no mercado da região Sul. No ano de retração dos espumantes, suas vendas tiveram um aumento de 28%. O segundo caso foi da Vinho & Ponto, que fez uma parceria com um app de entrega de comida e, assim, alavancou consideravelmente as suas vendas, como contou Erni Luís.
Todos esses destaques exemplificam o que os números de venda e importação revelam sobre esse mercado. O ano de 2020 teve um crescimento de 31% em volume, chegando a 501,1 milhões de litros. Os vinhos produzidos no Brasil puxaram o mercado, com uma alta de 32,4%. Os importados, por sua vez, cresceram 26,8%.
Ao contrário de anos anteriores, quando outubro costumava representar o maior volume de vendas no ano, em 2020, junho e julho foram os meses de maior movimento, com mais de 60 milhões de litros cada. Com esse crescimento, o consumo per capita chegou a 2,78 litros para os maiores de 18 anos. Em 2019, ele foi de 2,13 litros. É o segundo ano consecutivo que o consumo supera a marca de 2 litros por habitante maior de 18 anos.
O ano fechou com 1.003 empresas registradas no Brasil pela fabricação de vinhos. Delas, 66% estão no Rio Grande do Sul. As importadoras somam 575 empresas – eram 491 no ano anterior. Nota-se, ao longo de 2020, o destaque da venda dos vinhos brasileiros entre os meses de maio a julho. A partir de agosto, quando a indústria nacional passou a registar problemas de insumos – a falta de garrafas foi a mais significativa –, há um crescimento dos importados, principalmente nos meses de novembro e dezembro.
Ao todo, os espumantes nacionais registraram uma retração de 1%, esperada pela falta de festas e comemorações. Nos espumantes importados, incluindo champanhe, a redução foi de 21%. Nos vinhos tranquilos, onde se concentrou o aumento de consumo, os brancos e tintos finos brasileiros tiveram um aumento de 100%; os vinhos de mesa, elaborados com variedades não viníferas, tiveram alta de 32% e os importados, de 29%.
No término do ano, os vinhos de mesa representaram 63% do mercado, os importados ficaram com 31% e os vinhos finos brasileiros, com 6%. Tanto o vinho importado como o de mesa perderam, cada um, 1 ponto percentual de participação. Os vinhos finos ganharam dois pontos, passando de 4% para 6% de mercado. Por fim, o impacto do dólar, que marcou todo o ano passado, se traduz numa queda de 10,4% no preço médio dos vinhos importados. A média de preço ficou em US$ 24,90, a caixa de vinho com 9 litros, em valores FOB. Ou seja, estamos bebendo mais, porém são vinhos mais baratos em suas origens.