Impossível não associar os espumantes às ocasiões comemorativas, de celebração, eventos, festas e muitos brindes. É essa imagem do espumante que explica, principalmente, a redução da sua venda e de sua importação nos primeiros cinco meses do ano na comparação com igual período de 2019.
Os dados de janeiro a maio de 2020 apontam uma queda de 31% no volume comercializado de espumantes brasileiros na comparação com o mesmo período do ano anterior. Nos primeiros cinco meses deste ano, foram vendidos 2,5 milhões de litros da bebida elaborada no Brasil, contra os 3,6 milhões de litros de janeiro a maio do ano passado.

A importação dos espumantes, por sua vez, ficou estável, com 1,4 milhão de litros tanto nos primeiros cinco meses de 2019 como em 2020. Quando analisados os nobres champanhes, a queda é mais significativa, com quase 40% menos em volume.
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Mas há empresas que comemoram. A Henkell Freixenet, por exemplo, registrou um aumento de 26% no volume importado e 35% em seu volume de vendas de espumantes – a multinacional traz, principalmente, cavas e proseccos para o Brasil –, e de 25% em seu faturamento neste período, como revelou em sua convenção de vendas (leia texto no final desta reportagem).
Na análise da origem dos espumantes importados pelo Brasil, a entrada dos rótulos espanhóis cresceu 34,1% enquanto chegou a 8% o aumento da importação de rótulos franceses pelo Brasil neste período (nem só a região de Champanhe elabora vinhos espumantes na França).
Também cresceu em volume a importação de espumantes chilenos. Os demais países relevantes na exportação de espumantes para o Brasil são Itália e Argentina, que registraram redução em volume de garrafas de, respectivamente, 20,9% e 19,3%.
Principais origens de espumantes importados de janeiro à maio de 2020 |
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Fabiano Ruiz, diretor executivo da Henkell Freixenet Brazil, explica porque a venda de seus espumantes cresceu. Seu primeiro ponto é que os consumidores de espumantes são fieis à bebida e continuam abrindo suas garrafas, mesmo sem situações festivas para comemorar.
O argumento vai no caminho da campanha de vários produtores de que os espumantes, independentemente de sua origem, não são apenas uma bebida de festas e podem ser degustados durante todo o ano. Diversos eventos de harmonização de vinhos espumantes com entradas, pratos principais e sobremesas são exemplos de ações que trabalham para criar novas situações de consumo para esta bebida e, assim, reduzir a sazonalidade de sua venda.
O segundo ponto tem ligação direta com a pandemia. Com fronteiras fechadas (veja texto publicado aqui em 25 de junho) e com a redução das viagens internacionais, o que significa sem a chance de trazer bebidas na mala e sem as compras das lojas Duty Free, vários consumidores procuram agora outros canais para abastecer suas adegas. “Nossas vendas para os três estados da região sul representavam 30% do faturamento; agora são 40%”, diz Ruiz.
Rio Grande do Sul e Santa Catarina são regiões produtoras e seus habitantes têm o hábito de consumir estes vinhos espumantes. Este crescimento das vendas mostra que os consumidores estão procurando opções de consumo, mesmo que em casa.
As vendas de espumantes são sazonais e se concentram no segundo semestre. Agora é esperar os próximos dados de comercialização e importação, pensando em um cenário de possível abertura, para entender o comportamento das vendas deste estilo de vinho a partir de julho.

Convenção em tempo de pandemia
A Henkell Freixenet Brasil realizou na semana passada a sua primeira convenção em tempos de pandemia. “O encontro era necessário”, diz Fabiano Ruiz, diretor executivo da Freixenet que ficou à frente da nova empresa quando os alemães da Henkel compravam o grupo vinícola espanhol em 2018. “Precisávamos contar para nossos representantes do perfil da nova companhia”, diz ele.
Realizada virtualmente, a convenção permitiu reunir na mesma tela o executivo Ingo Schmidt, managing director da Dr. Oetker Brazil, a principal empresa da Henkell no Brasil, e o enólogo Jordi Vidal, embaixador dos vinhos espanhóis da Freixenet. E, online, Ruiz apresentou o novo perfil da companhia, mostrou dados do mercado de vinhos, coletados pela Ideal, e motivou sua equipe de representantes, como conta da entrevista a seguir.

Por que a convenção virtual?
A convenção estava prevista para abril e foi adiada pela pandemia para agosto. Mas precisávamos apresentar a empresa para os nossos representantes, não dava para esperar até agosto. Com a compra da Freixenet pela alemã Henkell, em 2018, a empresa dobrou o seu portfolio no Brasil. Não apenas trouxemos para casa os vinhos que eram importados por outras importadoras, como a linha “I heart”, que estava na Cantu, e o Mionetto, da World Wine, como decidimos importar os nossos vinhos. Os rótulos espanhóis já estão no Brasil, os italianos vão chegar em breve.
O que mudou com a gestão alemã?
O primeiro ponto é que teve uma redução no meu preço FOB, assim tivemos um impacto menos significativo da desvalorização do real frente ao dólar. Os alemães querem que o negócio cresça, possibilitam prazos mais largos para pagamento. É um momento único para ganhar participação de mercado e apostamos nisso.
Como foi a fusão no Brasil?
A Henkell não tinha filial no Brasil nem na América Latina e com a compra ganhou empresas no Brasil, na Argentina e no México. A fusão aconteceu em 2018. No primeiro ano, eles começaram a entender o negócio do vinho na América Latina, as instabilidades das nossas moedas. Em 2019, começamos a organizar a casa, trouxemos os vinhos da Henkell, que estavam em outras importadoras. Assim, tiramos os intermediários e montamos uma operação própria. Neste ano, passamos a importar os vinhos. Até então, a Freixenet só trazia espumantes espanhóis e o prosecco, lançado pouco antes desta fusão e que faz muito sucesso.
A ideia é reduzir a importância dos espumantes?
Os espumantes sempre serão importantes, mas queremos ampliar o nosso portfolio e diminuir a sazonalidade que os espumantes trazem para a empresa. Vamos entrar em vinhos de maior qualidade, com preço mínimo a partir de R$ 80 e máximo de R$ 300, R$ 400. Devemos ficar em 50% vinho, 50% espumantes.
Quais os pontos altos da convenção?
É muito diferente uma convenção virtual, mas as pessoas saíram motivadas. Pudemos trazer o CEO da Dr. Otker, para dar uma ideia do tamanho da Henkell. O enólogo Jordi Vidal falou dos vinhos espanhóis. Nós quisemos mostrar mais da cultura da Henkell, que tem vinícolas pelo mundo, muitos projetos. A linha I Heart, por exemplo, é uma das nossas apostas, tem vários vinhos e agora vai partir para os destilados. E mostrar o nosso e-commerce, que vem crescendo significativamente em vendas.
Quais as próximas novidades a chegar?
Está no navio a caminho do Brasil a linha de vinhos italianos. Depois do sucesso do nosso prosecco, teremos um tinto, um branco e um rosé, embalados na mesma garrafa do prosecco, na linha Italian Wine. Será um chianti, um pinot grigio e um rosado. E vamos focar nos vinhos espanhóis, que são muito bons.
A Freixenet já teve um espumante brasileiro. Há planos nesta área?
Sim, já tivemos. Vejo que os alemães estão estudando o mercado. Temos dinheiro em caixa e o perfil da empresa é de comprar outras companhias. Mas por enquanto não temos nada no radar.